Crise mundial?

Containers à deriva, navios sem destino e em alto-mar

Conforme abordado pelo Guia Marítimo, o anúncio do pedido formal de falência do armador sul-coreano Hanjin Shipping deixou o mercado global apreensivo depois que os credores bancários anunciaram o corte de apoio à empresa devido às dividas correntes. (Leia no Guia)

Como consequência, alguns navios da frota - incluindo embarcações, marinheiros e carga – estão em uma espécie de limbo, já que, temendo calotes, os portos não deixam navios da Hanjin atracarem ou descarregarem. Além de impedirem que os navios descarreguem, os portos também estão retendo containers já desembarcados pela companhia, como garantia de pagamento das dívidas da empresa. Mesmo que essas liberações fossem autorizadas, o que se sabe é que a companhia impediria essas atracações por medo de que os mesmos fossem tomados pelos credores. Greg Knowler, analista marítimo e comercial da empresa IHS Markit, aponta esse cenário como “um grande desastre para as companhias de transporte marítimo e para as proprietárias das mercadorias que estão nos containers".

A gigante dinamarquesa Maersk já se pronunciou em nota oficial: diante do temor de que os 98 navios da coreana estejam sujeitos a retenção por parte de seus credores, a Maersk já descartou a possiblidade. (Leia no Guia)

Os containers retidos em portos espalhados pelo mundo, como o das Filipinas, por exemplo, que estava a caminho de Hong Kong, sofrem ainda com outros problemas: a perda de dinheiro. O que se sabe é que, se a Hanjin não pagar por isso, o porto irá reter o container como garantia até que alguém pague a conta. Uma solução possível seria a de companhias que são donas das cargas dentro dos containers pedissem para outras empresas de transporte marítimo assumirem o percurso a partir de onde a Hanjin teve que abandonar.

O custo seria duplicado, já que o montante a ser gasto com essas empresas já havia sido pago à companhia, mesmo descontando o que seria coberto por seguradoras, a operação seria consideravelmente encarecida. Considerado alta temporada para a indústria global de transporte marítimo, o mês de setembro costuma estar em seu momento mais ativo do ano. Por isso, um dos problemas com o “limbo marítimo” seria a carga guardada dentro dos containers, aguardada por seus compradores. "No total, são cerca de 540 mil containers com carga retidos no mar", explicou Lars Jensen, presidente-executivo da Consultoria Sea Intelligence.

Grande parte dessas mercadorias tem como destino final os EUA, na época de maior movimento comercial - o fim do ano -, e qualquer interrupção será uma grande dor de cabeça para as empresas que apostaram na Hanjin para entregar seus produtos. Vale destacar, porém, que nem todos os containers a bordo são da Hanjin, já que a companhia é parte de um grupo que inclui outras quatro empresas de transporte marítimo, ou seja, cada navio tem containers de variados donos. No caso dos navios que foram apenas alugados pela Hanjing, os verdadeiros donos podem recuperar o controle das embarcações e atracá-las. Dessa forma as cargas ainda teriam que ser retiradas mas, depois disso, os navios poderiam ser alugados para outras empresas.

No que se refere as tripulações presas nesse limbo, o temor fica por conta de ficarem retidos no mar durante semanas, além da incerteza em relação a seus salários. Sem conseguir atracar em nenhum porto, eles dependem dos suprimentos e do combustível dentro dos navios até que o impasse seja resolvido. Se os navios não tiverem dinheiro para pagar por combustível cedido por outras embarcações, os portos mais próximos seriam obrigados a aceitá-los. "A não ser que alguém assuma (a dívida) muito rápido - e não há sinais de que isso vai acontecer -, (o impasse) pode durar muito tempo", alertou Jensen.

O resultado desse cenário é que navios, carga e tripulação podem ficar à deriva por semanas ou meses, sem saber quando e onde suas viagens vão terminar. 

Leia no Guia a coluna de Leandro Barreto que aborda o impacto da situação da Hanjin no Brasil. 

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