Transição energética é risco ou grande oportunidade no futuro papel da operação logística?

Provocado pelos devastadores fenômenos climáticos, é preciso rever as metas e acima de tudo entender a profundidade que o processo da transição energética terá no destino e transformação das operações da logística.

Não se trata somente de descarbonizar o setor. Pouco se comenta sobre o quanto os fatores da logística impactarão a nova geoeconomia mundial, por conta das diferentes características das energias sustentáveis e como as empresas devem se preparar para transformar limões em limonadas.

Apenas 40% das soluções para a descarbonização da cadeia de suprimentos dependem da substituição dos combustíveis fósseis. A melhora acontecerá, em grande parte, na área da inteligência aplicada às operações e no redesenho dos modelos atuais.

Dizer que a “nova” logística é baseada em Inteligência Artificial já é o mesmo que propagar que um eletrodoméstico é movido a eletricidade. A mesma IA que é responsável pelo exponencial aumento na demanda por mais energia será a solução nos desafios do supply chain.

Sistemas de informações geo orientadas, data driven, com machine learning, digital twins, algoritmos de otimização de espaços e rotas, além dos estudos de relocação de CDS, de indústrias, embalagens otimizadas, previsibilidade de distorções etc, já estão no radar e em muitos casos, em uso. Tudo com vistas na sustentabilidade ao menor custo.

Por outro lado, esbarramos em novos desafios tecnológicos, econômicos e logísticos na transição para energias sustentáveis que nos próximos anos, serão complementares à oferta das fósseis e no longo prazo destinadas a se tornarem a principal fonte de energia.

Como uma das principais soluções, o hidrogênio verde funcionará como uma bateria química, de longa duração, viabilizando a armazenagem e transporte da energia renovável para atender, de forma linear, a sustentabilidade de geração elétrica, produção de fertilizantes, do aço, vidro, cimento, cerâmica, mineração, na transformação de bioenergéticos e até em dar maior sustentabilidade à exploração e produção de fósseis. O H2V também é visto, com grande potencial, para viabilizar o transporte sustentável em caminhões providos de células combustíveis de hidrogênio fornecendo energia para motores elétricos , na longa distância.

Alguns países como a Alemanha já definiram o Hidrogênio Verde como uma das principais apostas na descarbonização e na substituição do gás Russo. O Brasil lidera na sustentabilidade da matriz elétrica com a atual estrutura de geração de energias renováveis e dos abundantes grids de distribuição. Porém, para atender à demanda prevista de hidrogênio verde terá que triplicar as instalações existentes.

O país tem abundantes excedentes de energias renováveis versus escassa oferta mundial em todas as frentes e já conta com quase uma centena de projetos previstos para a produção de hidrogênio verde e outros combustíveis alternativos. Uma parte já está inclusive comprometida na exportação para a Europa. A outra, ainda a procura das melhores oportunidades.

Um dos problemas é a armazenagem, transporte e distribuição do hidrogênio. Que somente será viável com o uso de carregadores químicos, dada à sua característica volátil. A aposta maior está na sua transformação em amônia.

Do ponto de vista logístico, a perda de eficiência energética do H2V da fonte ao destino numa exportação, por exemplo, é extremamente desfavorável. As perdas somadas no processo de transformação de uma energia renovável em hidrogênio, depois amônia, armazenagem, transporte e nova reforma para hidrogênio poderá consumir mais de 70% da energia originalmente gerada.

Essa grande perda energética na exportação se transforma numa das maiores oportunidades para a indústria brasileira conseguir recuperar o seu protagonismo. Basta plagiar o bem sucedido agronegócio que não só aproveitou a sua condição competitiva para exportar proteínas vegetais, como aprendeu a gerar ganho de valor na exportação dessa proteína, embarcada em animais já preparados para consumo final, como frango, ovos, suínos, e bois.

Com esse aprendizado no agro a indústria deve aproveitar essa histórica transição gerando uma enorme oportunidade para a economia local.

Pela lógica, a neo industrialização brasileira com base no Power Shoring é uma janela de oportunidade única para o país e uma mudança muito significativa no planejamento e equilíbrio dos operadores logísticos.

O tema é complexo e em ebulição. Vai desde a inovação tecnológica, à regulação, finanças, geo-política e, principalmente, no acompanhamento dos riscos e oportunidades que traz para as empresas, como todo grande processo disruptivo.

Novamente adiantando discussões aos fatos, o Guia Marítimo coorganiza, pelo terceiro ano consecutivo, o evento líder de mercado Hydrogen Dialogue Latam, que terá o 4º Green Logistics Summit ocupando 25% da programação. O objetivo é colaborar com os principais executivos de logística nas decisões que guiarão o futuro das empresas.






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