Fogo controlado, fretes nem tanto

O Incêndio em Rondonópolis e os possíveis impactos sobre os fretes rodoviários e os acessos aos portos

Na noite de terça-feira (16), um incêndio de grandes proporções atingiu o terminal ferroviário da Rumo-ALL em Rondonópolis - MT. De acordo com informações do corpo de bombeiros, as equipes do 3º Batalhão de Bombeiros de Rondonópolis chegaram ao local do incêndio por volta de 19h50, mas o fogo só foi controlado por volta de 23h, tendo o trabalho de rescaldo se estendido até a 3h30 da manhã de quarta-feira.

Fiquei particularmente chateado ao receber essa notícia, pois tive a oportunidade de visitar esse terminal em janeiro de 2015 e constatar que se trata do maior e mais moderno terminal de grãos da América Latina. Os 390 hectares das instalações da Rumo-ALL têm capacidade para receber 1600 carretas/dia (com sete tombadores), carregar 540 vagões/dia (6 composições com 80 vagões de 80t cada), pátio de estacionamento para 5.000 carretas e armazém para 60.000 toneladas de grãos.

Em 2015, os quase 15 milhões de toneladas embarcadas por esse terminal na Ferronorte com destino ao Porto de Santos, além de representarem cerca da metade de toda a soja, farelo ou milho que chegaram ao cais santista, equivaleram a uma redução de cerca de 400.000 viagens de carretas até esse porto, ou seja: diariamente, são quase 1.100 carretas a menos na chegada aa Santos, carregadas com grãos ou farelo do Mato Grosso.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a Rumo-All emitiu a seguinte nota sobre o ocorrido:

"Um incêndio atingiu uma das esteiras de carregamento do Terminal Ferroviário de Rondonópolis, na noite desta terça-feira (16). Não houve feridos. O fogo foi controlado rapidamente pela Brigada de Incêndio da Rumo e pelo Corpo de Bombeiros. As causas do incêndio estão sendo investigadas.

A empresa remanejou parte da carga para outros terminais da Companhia na região. Não haverá impactos significativos na operação. Os trabalhos de recuperação da estrutura danificada já foram iniciados e devem ser concluídos nos próximos dias."

Os terminais para onde a carga está sendo remanejada, conforme mencionado na nota, são, principalmente, Alto Araguaia (200km à frente) e Itiquira (150km à frente). Contudo, o primeiro possui apenas um tombador de carretas e o segundo, dois tombadores, o que soma menos da metade da capacidade de Rondonópolis.

Conversei com algumas tradings (maiores clientes do terminal) e ouvi que a informação que haviam recebido da Rumo-ALL era de que eles ainda estariam aguardando o resultado de uma avaliação nas estruturas metálicas, ainda em andamento, para poderem estimar uma data de reabertura do terminal, sendo dois os cenários possíveis: que o fogo tenha danificado apenas as esteiras e rolamentos (previsão de sete dias para retomada das operações); ou que as chamas também tenham danificado as estruturas metálicas de sustentação das esteiras (previsão de cerca de 30 dias para retomada das operações).

Com isso, os reflexos sobre o frete rodoviário foram imediatos, e os valores já subiram R$ 20/ton até Itiquira e Alto Araguaia, segundo o especialista Carley Fernandes - CEO do Rota do Transporte. De acordo com ele, o frete até Santos ainda não havia subido porque as grandes tradings seguraram seus embarques para "estudar" as alternativas e aguardar até que as perspectivas de reabertura do terminal de Rondonópolis estejam mais claras. Entretanto, ao longo dessa semana, o frete rodoviário do MT para Santos tende a aumentar já que a capacidade conjunta dos terminais para onde a carga está sendo remanejada é, no mínimo, 30% inferior a de Rondonópolis e, portanto, parte do volume terá de migrar para as carretas.

Felizmente, esse incêndio não ocorreu no início do ano, de fevereiro a abril, quando ocorre o escoamento do pico da safra de soja, mas, de qualquer maneira, acredito que se trata de um assunto que precisará estar no radar de todos os embarcadores brasileiros nos próximos dias – seja em rotas nacionais ou internacionais –, já que, dependendo do tempo que o terminal de Rondonópolis ficar fechado, o impacto a nível nacional sobre os fretes rodoviários pode ser significativo. Isso sem contar o fato de que será um "teste de fogo" para os sistemas de agendamento de carretas dos portos.

Escrito por:

Leandro Barreto, Sócio-Consultor SOLVE Shipping

Administrador de empresas, especializado em economia internacional pela Universidade de Grenoble e em Inteligência Competitiva pela FEA/USP. Há mais de dez anos atuando no segmento, foi gerente de Inteligência de Mercado na Hamburg-Süd, professor pelo IBRAMERC e Diretor de Análises da Datamar Consulting. Atualmente, coordena projetos independentes de consultoria com forte atuação junto a armadores, autoridades portuárias, embarcadores e entidades públicas voltadas para o desenvolvimento do setor portuário.



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