Transporte internacional de cargas ganha mais segurança contra roubos, tráfico de drogas e perda de qualidade

Levantamento da Receita Federal apontou que a compra via e-commerce de “cross border” (negócios com produtos de diferentes países) cresceu 150% nos últimos cinco anos. São mais de 176 milhões de volumes importados em 2022 entre itens tributáveis e isentos (como cartas e documentos), o que demanda uma estrutura de logística complexa.

O transporte internacional de mercadorias passa por muitas etapas e desafios até que o produto chegue ao destino e para o consumidor. Porém, na hora de comprar um produto de outro país com apenas um clique, não costumamos pensar nisso. Ao contrário, nos preocupamos mais com o tempo que a encomenda vai demorar para chegar.

Para se ter uma ideia, da China até o Brasil são mais de 16 mil quilômetros de distância e o trajeto passa por outros países antes de desembarcar no ponto final. Durante a viagem, as regulamentações e procedimentos aduaneiros, que variam de país para país, tornam o transporte ainda mais burocrático. Há ainda as falhas na comunicação e barreiras culturais e diferenças de idioma. A variedade de sistemas e padrões de tecnologia, a fragmentação dos modais, o bom manejo dos produtos, questões climáticas, segurança e a falta de visibilidade em tempo real também impactam o transporte de cargas em todo o mundo. Isso significa que, se surgir algum problema no meio do caminho, a nossa encomenda pode demorar a chegar, ou até, se perder.

Finalizamos a compra de um produto do outro lado do continente em poucos passos; todavia, desde a origem ao destino, é preciso muito planejamento. Para lidar com esses desafios, a tecnologia blockchain, inteligência artificial (IA) e análise de dados avançada para melhorar a visibilidade e a transparência das cadeias de suprimentos internacionais têm sido essenciais para o sucesso do transporte de cargas. Além disso, a colaboração entre as partes interessadas, a adoção de padrões de tecnologia comuns e a conformidade com regulamentações internacionais são fundamentais para superar esses desafios e garantir uma visibilidade eficaz das mercadorias em trânsito.

Risk Monitoring

Diversos países, como Estados Unidos e China, já trabalham com plataformas de visibilidade para acompanhar as cargas além das fronteiras. O transporte rodoviário é o principal impulsionador dos movimentos de carga no país, representando cerca de 67% do transporte, e as condições das estradas, os altos preços dos combustíveis e a segurança são desafios à logística.

Só no ano passado foram mais de 17 mil casos de furtos e roubos de cargas, segundo o relatório de Roubos de Cargas do Centro de Inteligência da Overhaul. As cargas diversas representaram 43% dos casos, seguido por alimentos, bebidas e tabaco. Houve um aumento de 4 pontos percentuais nos roubos de eletrônicos em 2023, ressaltando a atratividade desse tipo de carga para os criminosos.

Agora, quando o assunto é visibilidade na exportação, o foco do Brasil ainda tem sido em embarques transportados em território nacional, o que reduz a atenção no processo como um todo. “A maioria dos monitoramentos é realizado por empresas no país de origem, e assim que a carga sai de um país para outro, a responsabilidade passa a ser de outra companhia. Esse fracionamento pode parecer menos burocrático, porém, gera um ponto cego no monitoramento na transferência de uma fronteira para outra, com isso, há risco de perda de informação durante o transporte, que pode gerar tanto dificuldade de acionamento em caso de sinistro quanto risco de contaminação com abertura de container durante o trajeto”, explica Reginaldo Catarino, gerente de Inteligência da Overhaul.

Experiente em acompanhar cargas em todo o globo, a Overhaul lançou o serviço de Risk Monitoring no Brasil. “Esta é uma tecnologia essencial para o cliente que deseja investir no mercado internacional com segurança e qualidade e ainda busca redução de custos no transporte internacional”, destaca João Pedro Gonçalves, analista de Risco da Overhaul no Brasil.

Ele explica que as informações do Risk Monitoring abrangem a complexidade de todo o trajeto. “A partir do momento que a carga passa da fronteira, no cross boarder, se perde o rastreio e as informações, porém, com a plataforma Risk Monitoring a gente consegue monitorar em qualquer parte do globo, e conseguimos ver se houve mudança na rota, se o contêiner foi aberto, se precisa ajustar a temperatura etc.”.

O programa gera dados em tempo real, avaliação de risco e KPI’s de Performance Logística como quantos embarques estão dentro ou fora do prazo e em que etapa de transporte. Há ainda uma estimativa de emissão de CO2 para o trajeto.

“No transporte internacional, a segurança da carga vai muito além da proteção contra roubos. Existe também a ameaça constante de tráfico de drogas, que frequentemente se utiliza de rotas marítimas. Isso torna o monitoramento rigoroso uma necessidade vital. Para empresas que já possuem a certificação OEA, garantindo maior eficiência no embarque, é necessário o rastreamento de ponta a ponta. Oferecemos uma visibilidade completa que cobre cada etapa da jornada de exportação, mitigando riscos não apenas de roubo, mas também de perda de qualidade, assegurando que produtos sensíveis, como medicamentos e alimentos, cheguem intactos ao seu destino final. A qualidade das mercadorias é preservada, especialmente em situações de risco de excursão de temperatura ou contaminação durante o transporte, desde os portos até os armazéns”, afirma Fabio Marton, diretor da Overhaul Brasil.

Viagens longas

São monitoradas cargas de milhões, em especial de eletrônicos, farmacêuticos e defensivos agrícolas. Gonçalves explica que, pelo baixo risco, o objetivo não é a segurança contra roubos, mas a segurança da carga - incluindo a qualidade, como controle de temperaturas em casos de medicamentos, por exemplo, manuseio e conservação.

Para monitorar as mercadorias, são instaladas iscas nos contêineres ou dentro das cargas. “Sem o dispositivo, seria necessária a abertura do contêiner para análise e controle, o que não é permitido aqui no Brasil - quem tem permissão é a Receita Federal, dentro das aduanas. Como fazemos a inserção desde a origem, temos o diferencial desse controle”, diz Gonçalves.

Atualmente o Risk Monitoring já está em funcionamento em duas operações no Brasil. “Temos uma carga farmacêutica que sai de São Paulo, e vai para o Porto de Santos onde é embarcada em navio e segue para a europa. E, também monitoramos eletrônicos de Santa Catarina à São Paulo para evitar roubos, pois é uma região com muitas ocorrências”, revela o especialista.

A empresa farmacêutica resolveu monitorar a carga de ponta a ponta, pois o produto era embarcado no Brasil devidamente aprovado, mas no desembarque eram encontrados entorpecentes.

“Com o Risk Monitoring, conseguimos ver todas as movimentações da carga e com isso, o contêiner não foi mais aberto ao longo do trajeto, com isso, não tiveram mais ocorrências de drogas na mercadoria”, exemplifica Fabio.



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