Empresas de logística se preparam para abertura de capital

Estudo aponta que setor registrou aumento de 46% em fusões e aquisições nos últimos cinco anos e que agora há tendência para novos IPOs dos grandes operadores logísticos

Segundo um estudo realizado pela Redirection International, com base em informações do mercado, entre 2018 e 2023 houve um aumento de 46% no volume de fusões e aquisições envolvendo operadores logísticos e agora essas companhias estão bem posicionadas para lançar seus IPOs.


De acordo com o economista Gabriel Loest Cardoso, sócio da Redirection International e um dos responsáveis pelo estudo, é possível observar que as empresas de médio porte que investiram recentemente em M&A estão ganhando escala e calibrando seus portfólios de atuação, ampliando a sua participação no mercado interno. “A estrutura financeira dos operadores logísticos de maior porte aumenta a capacidade de obter financiamentos e realizar novos investimentos. Neste cenário a abertura de capital se apresenta como uma excelente alternativa para acelerar a expansão corporativa”, destaca.

Ele explica que a atividade de IPO, de um modo geral, tem sido bastante desafiadora nos últimos anos, com muitos movimentos cancelados ou adiados, mas que existe uma perspectiva de retomada para os próximos anos, com estimativa de movimentar R$ 20 bilhões somente em 2024, segundo a Trends CE. “Apesar deste cenário, há algumas empresas de logística na fila para abrir capital na Bovespa, de acordo com informações do portal Investidor 10, como a Navios South American Logistics e a VIX Logística, por exemplo, e este número poderia crescer nos próximos anos”, ressalta Gabriel Loest Cardoso.

Entre as transações recentes de fusões e aquisições registradas no setor, o economista lembra as movimentações feitas pela JSL, que entre 2020 e 2021 realizou oito operações, sendo que em apenas três anos as aquisições já somam quase a metade do faturamento do grupo. Outra companhia que tem ido às compras é a Sequoia, que além de colocar o M&A em seu plano de expansão abriu o capital na Bovespa em um IPO em outubro de 2020 e neste ano anunciou acordo de fusão com a Move3.

O economista Adam Patterson, sócio da Redirection International e também um dos responsáveis pelo estudo, aponta que grupos de médio porte também têm sido ativos no mercado de M&A. Segundo dados do Panorama do Setor de Operadores Logísticos no Brasil produzido pelo ILOS, cerca de um quarto das médias empresas que atuam no setor participaram de alguma transação nos últimos anos, com o objetivo de criar grupos de operadores logísticos de grande porte.

“O momento é promissor para atividade de M&A no setor. Enxergamos o mercado de logística e frete crescendo perto de 5% por ano nos próximos anos. Ademais, a queda de valuations setoriais vista recentemente pode maximizar a atratividade de novas aquisições. Há muito potencial para grupos adquirirem e integrarem provedores em segmentos fragmentados para criar líderes regionais, bem como incorporar novas tecnologias que estão transformando as operações logísticas”, afirma Adam Patterson.

De acordo com o levantamento, mesmo com a queda geral de M&A desde 2021, as transações de fusões e aquisições no segmento de transporte e logística continuam a subir no Brasil. No ano passado, as negociações envolvendo empresas do setor alcançaram o pico de atividades, com 69 operações segundo o Portal Fusões & Aquisições, representando 3,5% do total de fusões e aquisições registradas no país, enquanto em 2021 era apenas 0,8% do mercado.

As transformações tecnológicas e a incorporação de novas tecnologias são apontadas no estudo como um dos propulsores das atividades de M&A no setor de logística e transporte. Entre as tendências, estão os processos de automação, com aplicação de softwares e maquinários automatizados que utilizam sistemas de monitoramento logístico integrados com blockchain, realidade aumentada, Inteligência Artificial (IA), Big Data e Internet das Coisas (IoT).

Outro fator que impulsiona as atividades de M&A no setor é o crescimento contínuo do e-commerce, que deve registrar alta de aproximadamente 19% até 2027, segundo o estudo. Além disso, a busca por soluções logísticas mais sustentáveis para reduzir o impacto ambiental e melhorar as credenciais verdes das empresas também estimulam essas transações.

Adam Patterson lembra que mesmo com o aquecimento das atividades de M&A registrado nos últimos anos, o setor de operadores logísticos ainda é bastante fragmentado, com cerca de mil empresas e 280 mil transportadoras, sendo que apenas 10% são de grande porte. “A fragmentação do mercado pode ser atribuída a vários fatores, incluindo o grande tamanho do país e as significativas disparidades regionais em infraestrutura e desenvolvimento econômico. Isso torna desafiador para qualquer empresa estabelecer uma presença dominante em todo o território nacional, por isso M&A e alianças estratégicas têm sido uma estratégia importante para o crescimento das empresas”, destaca.

O estudo aponta ainda que além da fragmentação, outras características específicas do mercado brasileiro de transporte e logística também contribuem para fomentar as atividades de M&A no país. Uma delas é a taxa de terceirização de serviços de transporte que supera as registradas nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo.

“Vislumbramos duas principais teses de M&A para a consolidação do segmento. A verticalização/integração de modais e serviços, além da diversificação, seja através da ampliação de serviços ou mesmo dos ramos de atuação. Como resultado das transações espera-se que empresas médias com atuação em duas ou mais regiões do Brasil e tornem players nacionais e com presença internacional, ultrapassando o patamar de R$ 1 bilhão de faturamento anual”, ressalta Gabriel Loest Cardoso.




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